sábado, 25 de julho de 2009

CBBD 2009: 2º diálogo (ou monólogo): Conferência Magna

Ao trazer as apresentações, nada mais natural que começar esse novo diálogo (até agora monólogo) resgatando a conferência magna do professor doutor Emir Suaiden, diretor do IBICT, ocasião em que trouxe a explanação intitulada “Bibliotecas na sociedade em rede, sustentabilidade e políticas públicas”, como momento de abertura dos trabalhos no CBBD. Ao hierarquizar os tópicos de abordagem, tendo como base o título, começou-se do fim para o começo, e assim será feito também aqui.
Inicialmente, houve um resgate histórico para lembrar a dimensão da cultura de informação, claramente sabida como consequência do marco denominado “imprensa”, com a qual resultou na disseminação das informações ao longo da história.
No contexto brasileiro, Emir traz citações de Matthew Battles e Felipe Lindoso para reforçar a idéia de uma realidade que exclui e do (des)interesse das esferas governamentais para as políticas públicas de informação. Nesse aspecto, é pertinente resgatar nas palavras de Lindoso a odiosa ironia de que os políticos estão entre os leitores mais assíduos, inclusive expressados por suas bibliotecas particulares e menções corriqueiras de célebres escritores em seus discursos. Esse fato paradoxal se dá pela falta de investimento justamente naquelas que são as fontes de informação de acesso à população, as bibliotecas, sendo marginalizadas no contexto global de investimentos e projetos.
Partindo daí, debater a questão da “sociedade do conhecimento” passa a ser um tanto revoltante e desanimador, sabendo que a marginalização se dá no próprio acesso à informação, mesmo com a contribuição das redes e da internet. Os excluídos digitais, que nem são analfabetos funcionais na realidade, tem em sua realidade analfabetos de verdade, que, quiçá, apenas assinam seus nomes.
Acreditar em uma “sociedade do conhecimento” se torna mais um combustível para se crer em um futuro melhor, e não um presente que possa deleitar-se. O indivíduo autônomo em seu aprendizado, contribuindo para o desenvolvimento de sua comunidade, tornando-a sustentável, pautado na ética que acompanha a construção do saber, tudo isso se mostra como a esperança de algo que precisa vir, e não como algo que chegou.
Prosseguindo com a apresentação do Emir, agora com a questão do “novo usuário”, suas exigências e necessidades. Com a questão do “tempo / espaço”, onde tudo acontece simultaneamente, a importância das bibliotecas acompanharem esse cenário se faz requisito primordial no atendimento às indagações dos indivíduos com sede de conhecimento. As bibliotecas híbridas passam a ser propósitos, mesmo com algumas discussões sobre sua nomenclatura e características, e começam a ser debatidas e implementadas como alternativas para a prestação de serviços informacionais, apresentando sua estrutura física, antes lauta em relação às pessoas, agora pequena diante do mundo virtual.
Nessa concepção, a “nova” biblioteca tem a sua frente o desafio de atender os nativos digitais, nascidos sobre uma tela de computador e nos cliques do mouse, e os analfabetos digitais, pessoas que se perderam no tempo com as revoluções tecnológicas. Como atender em uma mesma estrutura, usuários na velocidade de um processador ao mesmo tempo em que se atendem usuários na velocidade de um trem a vapor, satisfazendo ambos? Isso é claro,pensado em uma realidade desejável, onde todos sabem de suas inquietações e desejos de informação.
Continuando, Emir reforça mais uma vez a exclusão no mundo digital mencionando que “o fosso digital [é] definido, de forma simplificada, pela diferença entre os que têm acesso às informações pela internet e aqueles que não têm”, que se relaciona com a situação de desenvolvimento em cada região do nosso país. Este é, nas palavras dele, um desafio para as políticas públicas do Brasil. Traz, logo em seguida, a discussão das redes sociais, canais de comunicação com crescimento espantoso ao longo dos anos, e com participação efetiva da população brasileira. A título de exemplificação, os brasileiros são líderes no ranking de páginas do Orkut.
As redes sociais vêm acompanhadas da possibilidade de participação, fruto da sua estrutura horizontal e flexível que garante o fácil acesso e a garantia da democracia, bem como a liberdade para cada um ser o protagonista de seu ambiente. Obviamente que, nem mesmo em uma estrutura como essa, o acesso é possível a todos. Como menciona Castells (2003), acarreta “inclusive, formas de segregações”.
Da dimensão das redes sociais para a sustentabilidade, parte-se através de uma ponte construída com elementos como a ética, transparência, liderança, competência, criatividade e empreendedorismo, procurando de forma harmoniosa integrar o desenvolvimento hodierno com o cuidado para o futuro, seja com o meio ambiente, seja com as pessoas.
No que concerne à política de informação, é lembrada pelo professor como “o conjunto de princípios e escolhas que definem o que seria desejável e realizável para um país como orientação de seus modos de geração, uso e absorção da informação [...]”, em consonância com as outras políticas, através dos vários procedimentos possíveis para a realização da mesma.
Para encerrar sua exposição, o professor Emir traz uma mensagem que diz: “toda grande inovação, toda grande revolução, traz no seu bojo a questão da exclusão [...]”. De fato, a revolução tecnológica se insere em tal afirmativa.
O que é possível inferir, e ao mesmo tempo sugerir é que, diante de grandes diferenças de acesso, seja no mundo virtual, seja no dia-a-dia das comunidades, os bibliotecários tem a difícil, porém grata, missão de garantir que cada indivíduo se coloque como participante das transformações da sociedade, diminuindo os marginalizados. Isso pode ser tanto no mundo real quanto no mundo virtual. Dois mundos para um mesmo profissional tornar as pessoas competentes.
Vou parando por aqui, pois “competência” será abordada em breve, sobretudo, no que tange à “competência em informação”, amplamente discutida e importante para papel do bibliotecário.
Até a próxima.